segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Quem recebe, quanto e para quê?

Premiê grego diz que plano de ajuda da UE é ‘tímido’

Marcia BizzottoDe Bruxelas para a BBC Brasil

O premiê grego George Papandreou
Papandreou acusou órgãos europeus de 'falta de coordenação'
O primeiro-ministro da Grécia, George Papandreou, criticou nesta sexta-feira a resposta da União Europeia à crise que o país atravessa, classificando a reação como "tímida e muito lenta".
“A Grécia não é um superpoder político ou econômico para lutar essa batalha sozinha. Nos últimos meses dessa crise, a UE nos deu apoio político. Mas, na batalha contra os receios e a psicologia do mercado, (a resposta) foi no mínimo tímida”, disse Papandreou em uma reunião de gabinete transmitida por diversas redes de televisão em Atenas.
As declarações do premiê foram feitas após a chegada dele de Bruxelas, onde participou de uma reunião com líderes do bloco europeu para discutir um eventual plano de ajuda financeira ao país.
O grupo, no entanto, não ofereceu nenhum tipo de ajuda financeira e se limitou a uma declaração de apoio político e a um compromisso de tomar medidas coordenadas se for preciso.
Papandreou disse que apesar de a Grécia ter recebido uma declaração de apoio, nos últimos meses atrasos e declarações conflituosas agravaram a situação do país.
Nesse sentido, o premiê acusou a Comissão Europeia, os países-membro e o banco central europeu de “falta de coordenação”.
Segundo ele, a especulação sobre o país “criou uma psicologia de colapso iminente”.
Em um comunicado divulgado após a reunião em Bruxelas, os líderes europeus justificaram a ausência de uma oferta de ajuda financeira no plano de apoio oferecido à Grécia.
Segundo o presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, a ajuda financeira não estava na agenda “porque o governo grego não pediu tal ajuda”.
“Se o governo grego não pediu nenhuma ajuda financeira é porque ele acredita que é capaz de cumprir com suas obrigações”, disse ele.
Déficit
O déficit público da Grécia, de 12,7% do PIB, é mais de quatro vezes maior do que o permitido pelas regras da zona do euro impostas aos 16 países da União Europeia que adotam a moeda.
Diante desse cenário, o temor de que o país não será capaz de pagar uma dívida de mais de 16 bilhões de euros, que vence entre abril e maio, vem causando preocupação entre os investidores.
Como consequência, o euro sofreu esta semana uma forte desvalorização, e as bolsas de Espanha e Portugal, países que enfrentam problemas estruturais similares aos gregos, despencaram.
Os demais países da zona do euro expressaram o apoio "aos esforços do governo grego e ao compromisso de fazer tudo o que for necessário” para cumprir os objetivos determinados por seu plano de austeridade fiscal.
Um dos pontos desse plano que será observado atentamente pelas autoridades europeias é o compromisso do país de reduzir efetivamente o déficit público em quatro pontos percentuais em 2010.
O programa de austeridade fiscal elaborado pelo governo grego, que inclui medidas como o congelamento dos salários dos funcionários públicos e o aumento da idade de aposentadoria, não conta com a simpatia da população.
Na quarta-feira, o país se viu paralisado devido a uma greve nacional de servidores públicos em protesto contra essas medidas.


Alemanha aprova pacote de ajuda à Grécia

Angela Merkel
Para Angela Merkel pacote pode garantir estabilidade do euro
O gabinete de governo da Alemanha aprovou a contribuição do país para o pacote de ajuda à Grécia, planejado pelos países da zona do euro e pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).
A medida ainda precisa da aprovação do Parlamento, que deve votar ainda nesta semana a liberaração da fatia do país no empréstimo - de 22,4 bilhões de euros (R$ 51 bi) durante os próximos três anos.
Apesar da oposição ao pacote de uma parte importante da população alemã, a chanceler Angela Merkel afirmou que o empréstimo é a "única forma de garantir a estabilidade do euro".
"A razão para esta lei é um último recurso - uma situação de emergência - na qual a Grécia não tem mais acesso aos mercados financeiros, e há um impacto na estabilidade do euro", disse Merkel em uma entrevista coletiva.
A Alemanha está entrando com a maior fatia do pacote de 110 bilhões de euros (R$ 251 bi) que serão liberados nos próximos três anos para ajudar na recuperação da economia grega.
Deste valor, 80 bilhões (R$ 182 vbi) de euros virão da União Europeia e o FMI contribuirá com o restante.
O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Khan informou que a instituição deve aprovar sua parcela do pacote de ajuda até o final de semana.
O pacote é uma tentativa de evitar que a Grécia declare uma moratória de sua dívida, mas terá primeiro que ser aprovado pelos Parlamentos de alguns dos outros 15 países da zona do euro.
Em troca do empréstimo, o país terá de adotar medidas de austeridade, já anunciadas na manhã do domingo pelo primeiro-ministro grego, George Papandreou. Entre elas, estão reduções de salários e aposentadorias, e aumentos de impostos.
A primeira parte do empréstimo já será liberada antes do dia 19 de maio, quando a Grécia deve pagar uma parcela de sua dívida.
Cortes de orçamento
Investidores questionaram se o pacote de ajuda será o bastante para resolver os problemas mais profundos da Grécia e se o governo grego vai conseguir fazer os grandes cortes no orçamento que foram prometidos como parte do acordo para o recebimento do dinheiro.
Segundo a correspondente da BBC em Berlim Oana Lungescu, além do questionamento dos investidores, as últimas pesquisas de opinião mostraram que 56% dos alemães desaprovam a ajuda do governo à Grécia.
De acordo com o ministro do Exterior da Itália, Franco Frattini, o custo do pacote de ajuda poderia ser consideravelmente menor se os países da zona do euro tivessem tomado providências mais rapidamente.
"Era necessário intervir prontamente para ajudar a Grécia. Para evitar os danos, inicialmente falamos em 50 bilhões de euros, mas decidimos 110 bilhões apenas dez dias depois", disse.
"Nós esperamos a cautela de um grande país, como a Alemanha, demos tempo para pensar, mas, durante este período, o dano aumentou."
Outros políticos afirmaram que este pacote de ajuda destaca a necessidade de controles mais severos de finanças públicas.
"Quando acaba custando 110 bilhões de euros, você tem que mudar a abordagem", afirmou a ministra das Finanças da França, Christine Lagarde. A França vai contribuir com 16,8 bilhões de euros (R$ 38,3 bi).

Estas duas notícias, a primeira datada de 12 de fevereiro de 2010 e a segunda datada de 03 de maio  fazem refletir sobre os planos da Política de Coesão na União Europeia para 2007-2013. Até sobre a política de coesão em si. Hoje em dia vê-se um aumento crescente das disparidades entre os países da UE, uma dificuldade na coesão nos países do bloco. Mais que um problema econômico, parece ser um problema sócio-cultural.  As fronteiras líquidas das transações econômicas são rápidas demais e causam reações extremadas com relação às políticas adotadas na União Européia. Até que ponto as políticas de coesão estão de fato funcionando? Cada vez mais vê-se a ascensão de uma direita nacionalista, ou medidas excludentes que visam fechar as portas ao outro. A França deporta ciganos búlgaros, os quais não são aceitos em seu país de origem e na França são considerados cidadãos de segunda classe, por exemplo. Mas ora, não são França e Bulgária membros da UE?
As políticas para 2007-2013 visam, assim como a maioria das políticas de coesão já aplicadas, fortalecimento das PME, aumento da competitividade e diminuição das disparidades regionais em nível econômico, cita a questão da solidariedade entre países membros. O documento diz, na página oito: "ajudar as regiões menos desenvolvidas a recuperar seu atraso pressupõe, evidentemente, que as regiões mais ricas terão de pagar mais para o orçamento da UE que aquilo que recebem. Por outro lado, a solidariedade não tem sentido ´único. A existência de infra-estruturas e de uma produção modernas, a utilização sustentável de recursos e melhor educação e formação das pessoas que vivem nas regiões mais pobres também beneficiam as pessoas e a economia dos países mais ricos"
Ao analisar as notícias acima, fica a pergunta: solidariedade? Os alemães protestam contra a ajuda do governo à Grécia. Gregos protestam contra a forma que esta ajuda terá, uma ajuda que será concedida caso apenas sejam tomadas medidas de austeridade, algo planejado pela Alemanha junto ao FMI. Analisando-as, parece que a Política de Coesão, quando a crise chega, fica no papel. Não?

Alessandra Beber Castilho, 3º RI vespertino, RA 4100108

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